quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

QUAL SOM VOCÊ OUVE AGORA?

 Ouvindo os sons internos
Musicoterapia – antes da música, a vibração.

Meu trabalho como educador, a profissão de multi-instrumentista e as atividades de compositor e arranjador contribuíram de forma decisiva na escolha do tema que resolvi pesquisar, e hoje percebo que, na verdade, ele me escolheu.
No início de 2007, a coordenadora da Oficina de Música Sonia Silva, me encaminhou um aluno que participava do trabalho musical dirigido por ela, e que fazia parte de um grupo de alunos excepcionais, atendidos também por psicólogos e terapeutas ocupacionais do Depto. de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP.
Foi assim que, em maio de 2007, comecei a dar aulas de música na Oficina de Música para C., rapaz de 18 anos com diagnóstico de autismo e demência, sob orientação da profª. educadora e arteterapeuta Sonia Silva.
Depois de anos de estudo e trabalho com a questão da formação do pensamento cognitivo em crianças e adolescentes e de seu refinamento através da música, senti que tinha bagagem para iniciar o atendimento, embora considerado por muitos como inglório, pois no autista a transformação parece impossível. Segundo o próprio Prof. Dr. Rolando Benenzon, uma das grandes referências no assunto, trata-se de uma tarefa angustiante! - Observação feita pelo Prof. ao dissertar sobre autismo na II Jornada de Supervisão em Musicoterapia, realizada na FMU, onde participei e tive oportunidade de levar o caso pessoalmente ao Professor Benenzon em 31/08/2007.
Precisei lançar mão de estudos mais profundos do caso e, em dado momento, percebi pequenas sutilezas que acabaram fazendo toda a diferença no meu trabalho. Como se comunicar musicalmente com uma pessoa diagnosticada com autismo e reconhecer suas habilidades? Como estabelecer um “tratamento” diante dos diferentes e tantos graus de autismo?
Através do vínculo existente entre essas duas instâncias — razão/cognição e emoção/alma — revelado na prática, entrei em contato com a riqueza do universo em que vive o autista e pude reconhecer a função dos elementos da música numa abordagem musicoterápica, enquanto ponte para a comunicação e bem-estar.
Aos poucos, no decorrer deste fato, a música trouxe calma e foco, modificando um estado antes agitado e indiferenciado. Para haver comunicação e vínculo, a relação música e musicoterapia manifestou-se como necessária.
Este trabalho não tem a pretensão de responder adequadamente a essas questões por tratar-se de um relato de caso; todavia, espero poder apresentar alguns aspectos que venham a ser considerados na utilização da música junto a essa clientela, contribuindo de algum modo para o estímulo da pesquisa musicoterápica e, sobretudo, para que este trabalho seja o início do aprofundamento de minhas próprias investigações na área.
A música quase transforma a matéria em espírito, ou seja, em sua condição original, através da harmonia das vibrações que toca cada átomo do ser humano.
Hazrat Inayat Khan
"...Valmiki vê um casal de pássaros cantando na relva. Um caçador fere mortalmente o macho e é amaldiçoado pelo poeta com palavras em forma de poema. Brahma ordena que ele cante a façanha de Rama: o rei Maharaja, guardião do gigantesco arco de Shiva, promete Sita, filha da flor de lótus e criada por ele, a quem o entesar. No torneio anual, ninguém sequer ergue o arco. Rama tem uns 14 anos e compleição fraca e se apresenta, guiado pelo sábio Vichvámitra. Hesitante, o rei o aceita como pretendente. Rama vence! Eles se casam em bela cerimônia. Por intrigas, Rama abandona o trono de seu pai e é condenado a 14 anos de exílio. Sita é então raptada pelo demônio Ravana. Rama organiza um exército de resgate, auxiliado por seu ministro que, em forma de gato, entra na cidade e encontra Sita. Um exército de macacos, ursos e demais entidades toma a capital. Com o arco de Shiva e a flecha mágica de Vichvâmitra, Rama decepa as dez cabeças do demônio resgatando Sita, a quem o destino reserva ainda uma dor..."